O termo “orbiting” pode parecer novo, mas a prática é antiga. Hoje em dia, é comum que pessoas se conheçam em aplicativos de namoro, e, mesmo que haja interesse mútuo, um dos lados desapareça—mas não completamente. Embora a pessoa deixe de responder mensagens, ela continua a “orbitar” a vida de quem foi deixado de lado, seja através de reações nos stories ou interações em postagens.
Esse comportamento é frequente, porém, muitas vezes difícil de lidar ou reverter. Por ser uma atitude pouco natural, decidimos explorar o tema com mais detalhes. Confira a seguir.
O que é o orbiting?
O termo deriva do verbo “orbitar”, ou seja, pairar em volta de alguém, mas sem realizar um contato direto. Em tempos de redes sociais e aplicativos de relacionamento, isso acontece todo dia.
De acordo com a psicóloga Ohara Coca, “essa situação é uma das consequências diante do cenário superficial em que estão se estabelecendo os relacionamentos atuais, assim como um reflexo da sociedade narcisista a qual estamos inseridos”.
Em essência, acontece quando alguém para de responder a outra pessoa de forma direta, mas continua com as interações nas redes, visualizando os stories, curtindo, e até comentando as postagens. Esse comportamento pode causar sérios danos, como insegurança, tristeza e ansiedade, uma vez que a pessoa começa a se questionar porque não há o contato mais direto.
Como saber se você está sofrendo o orbiting?
Identificar o “orbiting” pode ser desafiador, mas existem sinais claros que indicam essa prática. Segundo Ohara, “o problema principal talvez não seja o orbiting em si, mas o que ele desencadeia emocionalmente. Por que tanta insegurança, ansiedade, tristeza? Estou postando coisas para chamar a atenção do outro? Por que ainda preciso acompanhar as novidades do(a) ex? Por que me preocupo tanto com quem visualiza ou curte minhas postagens?”
Um dos sinais é quando a pessoa para de responder diretamente suas mensagens, mas continua visualizando todos os seus stories ou curtindo suas postagens. Isso pode gerar ansiedade e insegurança, afetando a forma como você se vê.
É comum criar expectativas em relação ao comportamento do outro. “O orbiting evoca fantasias inconscientes em quem ainda possui expectativas quanto ao relacionamento, dificultando o desinvestimento emocional e o processo de luto. Se a atitude do outro lhe afeta (seja você quem orbita ou é orbitado), talvez a questão não esteja no outro, mas em você”, explica a psicóloga.
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Por que acontece o orbiting?
Na maioria das vezes, o orbiting é tão inexplicável que chega a ser grosseiro. Alexi Mojsejenko, de 22 anos, acredita que alguém com quem se envolveu no passado ainda acompanha suas redes sociais, mas sem interagir de forma direta, como comentar ou curtir postagens no Instagram. “Nesse ponto, não passa de um comportamento passivo-agressivo, quase como uma batalha silenciosa e solitária”, afirmou ela.
Por outro lado, Kate, de 27 anos, moradora do Colorado, encara o fenômeno de forma mais filosófica e até positiva. Para ela, o orbiting se tornou uma espécie de estratégia de flerte para muitas pessoas. “Os mais ousados chegam a curtir postagens antigas, de semanas ou até meses atrás. Isso, com certeza, quer dizer alguma coisa; mas, claro, a pessoa também pode ser completamente sem noção e ter mostrado acidentalmente que está stalkeando”, comentou, referindo-se ao comportamento nas redes sociais.
Kate também observou que os orbiters tendem a evitar curtir fotos de família ou paisagens, preferindo dar likes em selfies, o que lhes permite manter uma presença online sem precisar reconhecer a existência da pessoa no mundo real. Vale ressaltar que nem sempre o orbiting é intencional; é possível visualizar as atualizações diárias de alguém sem qualquer interesse real em sua vida pessoal, agindo apenas de maneira automática.
Qual é a diferença entre orbiting e o ghosting?
Orbitar uma pessoa pode significar ter sumido de sua vista, sem querer ser esquecido. De forma cronológica, o orbiting sucede o ghosting, que é um comportamento similar, em que a pessoa some sem dar qualquer explicação, deixando o outro totalmente de lago. O ghosting tem se tornado muito popular entre os jovens, que tendem a interpretar essa atitude como “irresponsabilidade emocional”.
“Quando o orbiting surge depois do ghosting, eu vejo que esse perfil tem o objetivo de não ser esquecido, de continuar ali. Mesmo que o orbiting não leve a mais nada, ele continua ali, confundindo a cabeça dessa mulher que está sendo ‘orbitada’”, disse a psicóloga e especialista em Saúde Mental, Gênero e Sexualidade, Priscila Sanches. “Existe uma vaidade muito grande de algumas pessoas, e o orbiting surge para que essa vaidade seja inflada de alguma forma. Então, as curtidas, as visualizações e reações podem não levar a lugar nenhum porque o objetivo é essa troca superficial”.
Para a profissional, as redes sociais são responsáveis por essa superficialidade nas relações e a possibilidade de encerrar relacionamentos de forma precoce, sem qualquer compromisso ou explicação.
“As redes sociais trouxeram uma facilidade que as pessoas incorporaram para essas relações. No orbiting, pegaram essa facilidade ignorando a responsabilidade afetiva. A pessoa que recebe o ghosting ou que está sem entender esses sinais confusos vai ter dificuldade de assimilar as coisas. É como ficar com a mala do outro no aeroporto e não saber o que fazer. Eu despacho essa mala? Você vai ficar com ela?”
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Fontes: Correio do Povo; Casa Pino; UOL; Diário do Nordeste; CNN Brasil; Metrópoles